Ainda hoje não consigo dizer bem porque decidimos sair do país. Talvez para a minha geração mudar de país é como mudar de cidade. E sinceramente já não me recordo se custou muito ou não.
A palavra emigrante, que faco questao de usar em vez de expatriado (que segundo o dicionário quer dizer o mesmo mas tem um estigma social bem menos pesado), ficará para sempre associada a mim. Se é verdade que não fiz parte da geração que deu o salto, que emigrou sem perspectivas de futuro, que viveu em condições miseráveis para depois vir em agosto num mercedes, a verdade é que não temos neste momento noção do impacto socioeconomico que a emigração de cérebros causou e vai ainda causar a Portugal.
A minha geração emigrou com emprego (não foi o meu caso, eu emigrei para acompanhar o sonho do J), com salários competitivos, para trabalhar nas melhores empresas do mundo. Batemo-nos taco a taco com os nativos pelas melhores vagas, pelos melhores salários. Estamos integrados na sociedade, de igual para igual. Temos amigos ingleses, escoceses, moldavos, espanhois, irlandeses. Vivemos num melting pot. O nosso portugues em casa já e preguiçoso, mistura o inglês com o português. Mas fora da nossa casa falamos um português corretíssimo, sem sotaque. Ouvimos tanto a BBC como a rádio comercial, porque queremos saber o que se ouve cá. Viajamos para Portugal cerca de 6 vezes por ano, chegando a ver a família e os amigos mais vezes do que quando cá vivíamos. Sabemos das gravidezes e dos noivados por WhatsApp mas não faltamos a um casamento e visitamos os novos rebentos.
Este é o retrato do novo emigrante, que na verdade é só um amigo que vive mais longe.
Como amo a globalização….