Isto começa a parecer quase uma rotina, cada mês é dedicado a uma temática mais sentimentalista. Depois da maternidade, do materialismo e das saudades, este mês abordo uma temática mais abstrata.
Cresci sem a minha mãe. Pronto, quem não sabia, fica a saber agora. Morreu quando eu tinha seis anos e lamento, mas poucas memórias tenho dela. E as poucas que tenho são estupidas. O nosso cérebro decora coisas parvas e o meu parece que só decora coisas mesmo anormais. Por exemplo, no outro dia comprei uma camisa bordada, não porque gostava (vá, até gostava) mas porque me lembrei que a minha mãe usava muito camisas bordadas.
Voltando ao assunto inicial, sinceramente não sinto falta da minha mãe. E porquê? Porque como não me lembro, não sei o que é ter mãe e ninguém pode sentir falta de uma realidade que conhece. Não sinto falta de ter uma mãe galinha que prepara o pequeno almoço e não deixa os filhos sequer se levantarem para ir buscar o garfo. Não só não sinto falta como acho estupido na verdade. Mães que mexem nas malas dos filhos já crescidos, que sofrem porque acham que os filhos estão a esconder alguma coisa. Lamento, mas como isso não foi uma realidade com que cresci não consigo compreender. Com o meu pai nos tinhamos de lhe dizer que tínhamos de ir comprar roupa porque a que tinha me deixava os tornozelos de fora, que havia compromissos ao fim de semana, que faltava assinar os recados na caderneta, que precisava de ir cortar o cabelo. Isso fez-me crescer com um sentido de responsabilidade que não vi muito nas pessoas a minha volta. E sim, cresci com imensas figuras maternais a minha volta: a minha tia, a minha avo, a segunda esposa do meu pai, a minha irmã. Todas foram muito importantes na minha vida e ajudaram-me a ver um pouco mais o mundo das mulheres. Mas não, não sinto falta da minha mãe. E não pensem que tive uma infância dura, pelo contrário felizmente. O meu pai e toda a minha família nos protegeram da dura realidade da vida, daquelas coisas menos bonitas. Oh que infancia boa 🙂